Fundamentos de Psicologia Analítica: resumo
Primeira Conferência
Conceitos fundamentais em psicologia:
- Estrutura e Conteúdos da vida inconsciente
Jung inicia sinalizando a impossibilidade de abarcar completamente tais estruturas e conteúdos posto que se faz necessário abordar problemas filosóficos, éticos e sociais, pesquisas históricas e mitológicas inerentes a consciência coletiva.; sendo estes os referências às raízes da discórdia no campo das teorias psicológicas.
"[...] as doenças são processos normais perturbados e nunca (...)
dotados de uma psicologia autônoma." (pág.02)
A psicologia trata dos produtos da psique inconsciente, os quais não são diretamente acessíveis, ao se relacionar com a consciência. A psique inconsciente se exprime através de elementos conscientes, e estes nos fornecem dados para ação. No entanto, os fatos, em verdade, podem ser bem diferentes da imagem formada por nossa consciência.
A consciência apreende poucos dados simultâneos em dado momento, é resultante da percepção e orientativa na relação com o mundo externo. Tal limitação da consciência implica em não constituirmos imagens de totalidade, o que escapa a consciência na sucessão de momento é inconsciente. Percebemos o instante de existência.
"[...] coloco o inconsciente como um elemento inicial, do qual brotaria a condição consciente.
As funções mais importantes de qualquer natureza instintiva são inconscientes [...]." (pág.06)
Supomos que nossos pensamentos emerjam da cabeça, e talvez por isso fiquemos exaustos depois de prolongado estado consciente. Acreditamos que os sonhos e fantasias são produtos do inconsciente.
A existência de elemento da consciência pressupõe a relação de tal elemento com o ego (" [...] complexo formado primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória. (...) uma longa série de recordações. (...) um complexo de fatos psíquicos. (...) É sempre o centro de nossas atenções e de nossos desejos, sendo coerente indispensável da consciência. " pág.07). Não havendo relação do elemento com o ego, não atingirá a consciência.
Na esquizofrenia há fragmentação de ego: umas partes da psique se ligam a determinados fragmentos e outras partes se ligam a outros ocasionando a mudança rápida de personalidade.
Os melancólicos estão em uma espécie de condição embrionária : apresentam sintomas físicos introvertido acumulados.
A consciência é orientada no campo ectopsíquico (os conteúdos são dados e fatos originários do meio externo acessados pelas funções sensoriais da percepção) e no endopsíquico ( processos inconscientes) por certas funções.
*Funções Ectopsíquicas: sensação, pensamento, sentimento é intuição.
São funções que orientam conscientemente nossa relação com o meio externo:
Sensação = a soma da percepção sensorial dos fatos externos. ("diz que alguma coisa é").
Pensamento = apercepção. Exprime o que a coisa é, dá nome, associa a conceitos, categoriza e julga. ("exprime o que ela é").
Sentimento = informa o valor das coisas por meio das percepções. ("exprime valor a coisa").
Na emoção há manifestações físicas e fisiológicas tangíveis e observáveis; por contágio desencadeiam epidemias mentais:
"Através de uma espécie de sincronização o sistema simpático se altera, fazendo-nos apresentar provavelmente os mesmos sinais dentro de algum tempo, o que não se dá com os sentimento." (pág.22).
> valor obsessivamente forte >
afeto >---------------------------------------------------------> emoção
enervação fisiológica
Intuição = recrutadas em situações em que não há valores preestabelecidos nem conceitos firmados. Fluxo de antever fatos no campo do desconhecido, do pioneirismo e do empreendedorismo. Percepção de nível inconsciente.
Habitualmente as funções psicológicas são dotadas de energia específica e controladas pela vontade. As mesmas quando fora de uso podem se suprimir ou intensificar por conta própria dirigidas a determinada intenção inconsciente. Cada um de nós tem suas preferências e as recrutam no agir fluido (função dominante), assim como, a não fluidez está expressa na função inferior.
Cruz das Funções
No centro está o ego, dotado de energia disponível (força de vontade) a ser canalizada para a função dominante em anteposição a função inferior (não é consciente; não é diferenciada; não é manobrada com a força da vontade); e, o princípio de uma não exclui a outra.
A função inferior é associação a personalidade arcaica, ou seja, o domínio em que somos primitivos e nos baseamos no medo do outro para agir; é o domínio da ferida aberta. Nas demais funções temos fluidez de ação e civilidade.
" [...] hábitos introvertidos, o que não exclui, entretanto, a existência de um lado extrovertido, todos somos dotados dessa ambiguidade, caso contrário não nos adaptaríamos, não teríamos influência, ficaríamos desintegrados." (pág.27)
*Funções Endopsíquicas da consciência: memória ou reprodução, componentes subjetivos das funções concientes, emoções e afetos, invasões.
Parte de nossa personalidade em indeterminada e em mutação que permanece sempre inconsciente; sombra: "(...) sabemos o que fomos, mas ignoramos o que seremos." (pág18).
Memória ou Reprodução = distingue nossa relação clara com a retomada de conteúdos que se encontram enfraquecidos na consciência, dados subliminares ou que foram reprimidos.
Componentes subjetivos das funções concientes = tendência a reagir de certa maneira ao mesmo tempo que emerge disposição de que a ação não lhe é favorável.
Emoções e Afetos = âmbito em que somos empurrados e arremessados quando o ego decente se anula e é substituído: somos possuídos e dominados por um lado oculto.
Invasões = o lado oculto estabelece domínio completo e irrompe na consciência tirando-lhe o controle. Momento de paixão: o indivíduo é tomado pelo inconsciente. Entre a invasão e a inspiração artística não há diferença de processo.
"Estar louco é um conceito social. Usamos restrições e convenções sociais a fim de reconhecermos desequilíbrios mentais. [...] não é o aumento da insanidade que faz nossos asilos ficarem apinhados; é o fato de não podermos mais suportar as pessoas anormais, isto sim."
(pág.23)
Fonte: JUNG, C.G. Primeira Conferência. In: Fundamentos da Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 1985.