Resumo: Quarta Conferência de Fundamentos da Psicologia Analítica
“O mundo é imenso, e não há uma única teoria que consiga explicar tudo.” (pág.118)
Análise dos sonhos: trabalho de encontrar paralelos com produtos do inconsciente.
A análise dos sonhos é o meio técnico que viabiliza acesso ao inconsciente e nos indica o caminho para dissolver aflições.
Na vivencia de problemas emocionais as pessoas sonham de modo mais intenso. Os sonhos não respondem as nossas expectativas, evidenciam-se como mensagem do inconsciente.
Os sonhos são uma fonte objetiva de informação psicoterapeutica, informam o que o inconsciente de um ser esta fazendo com os seus complexos.
"[...] se não entendo é porque minha mente é que é distorcida, e não estou tendo a percepção que deveria ter. (pág. 79)"
Os complexos desempenham importante papel na análise dos sonhos, não por se tornarem classificáveis mais por tornar acessível sua dinâmica.
"[...] nossa consciência é apenas uma superfície, a vanguarda da nossa vida psicológica. A cabeça é apenas uma parte, mas atrás dela vem uma longa cauda histórica de hesitações e fraquezas, de complexos, preceitos e heranças, E sempre tomamos nossas decisões sem levá-la em consideração. Sempre acreditamos que podemos andar em linha reta, apesar de nossa pobreza, que, entretanto, tem um peso oneroso, e frequentemente derrapamos antes de atingirmos nossos objetivos exatamente por ignorarmos nossa calda. [...] a psicologia do indivíduo tem atrás de si uma longa cauda sauriana, formada pela história da família, da nação, do continente e do mundo todo. Somos humanos e não podemos esquecer que carregamos um pesado fardo por sermos apenas humanos. (pág.75)".
Jung destaca a necessidade de, ao abordar os sonhos, estabelecer sequências posto que a "...continuidade é inerente à estrutura psíquica". Nossa psique, tal qual a natureza, é contínua. O sonho é propriamente a interpretação. As associações dão pistas da dinâmica ( o que o inconsciente esta fazendo com os complexos?), logo é por meio de amplificações que descobre-se o contexto.
" Ao tratar do insconsciente pessoal não se tem o direito de pensar demais, nem de somar nada às experiências do paciente. É possível adicionar qualquer coisa à personalidade de alguém. Você é uma personalidade definida. E o outro também tem vida e estrutura mental próprias, e por isso mesmo ele é uma pessoa. Mas quando não se trata mais de uma pessoa, quando eu também sou ele, a estrutura básica de sua mente é fundamentalmente a mesma, aí eu posso começar a pensar e fazer associações em seu lugar. (pág.83-84)".
A prática da terapia se dá pelo princípio de transpor o caso pessoal em situação geral pertinente cuja “imagem coletiva ou sua aplicação deve estar de acordo com a condição particular do paciente” (pág.96). O problema do sonhador atinge toda a humanidade, transpõe a camada pessoal do inconsciente. O emprego do ponto de vista impessoal é de valor terapêutico e efeito curativo - principalmente em pessoas de nível mais primitivo dotadas de psicologia mais arcaica.
“O mito ou a lenda emerge do material arquetípico que está constelado pela doença, e o efeito psicológico consiste em conectar o paciente com o sentido geral de sua situação. (pág.96)”
É preciso compreender o sofrimento psicológico como algo que isola a pessoa das demais pessoas normais e é um problema característico da época. O sofrimento é individual e coletivo, ligando o indivíduo a humanidade. As figuras arquetípicas nos sonhos indicam o não isolamento da personalidade e o pertencimento a coletividade.
Exemplo: o neurótico se sente só e diminuído por seu mal. Tal cenário é associável com o motivo mitológico de conflito do herói e do dragão.
[Ver: Mito babilônico da Criação e a epopéia de Gilgamesh].
“...Os sonhos são tão simples ou complicados quanto o próprio só sonhando; a única diferença é que ele sempre se encontram um pouco diante da consciência da pessoa.” (pág.101)
Os sonhos os sonhos são reação natural do sistema de auto regulação psíquica. Todos tem uma função compensatória. Logo se o indivíduo não esta em sintonia com as suas condições inconscientes, o sonho é prova de que se desviou do seu caminho natural e tornou-se vítima de mesmo.
Em sonhos com material pessoal é necessário fazer uso das associações pessoais. Se estrutura for mitológica, o contexto é construído pela humanidade e todos temos o que dizer no nível coletivo.
Fonte: JUNG, C.G. Quarta Conferência. In: Fundamentos da Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 1985.